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(ao amigo e camarada João Barbosa)
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«Não é vadio quem quer, é quem assim nasce!»,
assim dizia o João, logo para começar.
Depois seguia pelas ruas de Arouca,
como se andasse pelas ruas do Porto;
muita vadiagem há por aqui, porém,
pouca prima pela qualidade,
que isto de vadiar tem que se lhe diga,
tem que ter arte ou, então, não é!
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Arte composta de pequenas filosofias
e, especialmente, de grandes miudezas:
um rio, uns barcos, algumas pontes,
poucos amigos, muitos livros,
e todas as ruelas que dão até à velha Ribeira,
que se faz cadeira de baloiço,
enquanto o Douro não abre persianas ainda.
Hoje, estando eu, entretanto,
com olhos no Porto e o espírito em Arouca,
dizem-me que o João morreu!
Mas, como é que isso é possível?,
se agora mesmo vejo o vadio,
como num sobressalto de parto,
knock, knock, on heavens´s door,
que não sendo ele saxónico nem anjo,
canta por cima de toda a Terra,
com o seu jeito para o fado vadio:
«Ó água que lavas no Douro /
as tábuas de barcos sonâmbulos /
Lavas uns /
Outros não /
Conforme a tua gratidão».
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